A Parábola do Semeador à luz do Espiritismo
Ariel Telo
Em certa ocasião, deixando a sua casa, dirigiu-se Jesus ao Lago de Genesaré, onde proferiria uma série de parábolas. Por conta disso, atraída pelas notícias dos feitos do Cristo, bem como pelos ensinos que costumava ministrar, uma grande multidão se juntou ao seu redor, de maneira que teve que se assentar num barco que estava no mar, para que, da praia, toda a multidão o visse e o ouvisse com clareza.
“Novamente começou a ensinar junto ao mar, e reúne-se junto dele uma turba numerosíssima, de modo que entrou no barco, que estava no mar, para se assentar, e toda a turba estava sobre a terra, junto ao mar. Ensinava-lhes muitas coisas em parábolas, e lhes dizia no seu ensino: Ouvi! Eis que o semeador saiu a semear. E sucedeu que, ao semear, uma parte caiu à beira do caminho, e vieram as aves e a comeram. Outra parte caiu sobre solo pedregoso, onde não havia muita terra, e brotou imediatamente, por não haver profundidade de terra. E quando raiou o sol, foi crestada e, por não ter raiz, ressecou-se. Outra parte caiu nos espinheiros; os espinheiros subiram e a sufocaram; e não deu fruto. Outra parte caiu em terra boa e dava fruto, que desponta e cresce; um carregava trinta; outro, sessenta; e outro, cem. E dizia: Quem tem ouvidos para ouvir, ouça! ” (Marcos 4: 1-9).
Mais tarde, a pedido de seus apóstolos que o interrogaram quanto ao significado da parábola, em particular, Jesus esclareceu o seu sentido: “O semeador semeia a palavra” (Marcos 4: 14).
A semente, portanto, é a palavra de Deus, sendo, pois, Jesus, o semeador. Tal palavra é absoluta, imutável, contendo nela toda a Lei do Amor, que abrange a Religião e a Ciência, a Filosofia e a Moral. A palavra de Deus é sempre a mesma para todos, e tem sido apregoada em toda a parte, desde que o Homem passou a ter condições de recebê-la.
Já o solo representa a capacidade individual de cada um de compreender a palavra de Deus, ou seja, o seu estado moral e intelectual. Metaforicamente, o solo é tão mais fértil quanto melhores forem as suas condições de receber a semente. Se, por um lado, essa semente tem germinado abundantemente em alguns, por outro lado, há aqueles em que a semente não desabrocha ou, se desabrocha, não produz frutos.
Se ela não atua com a mesma eficácia perante todos, tal fato se dá devido à variedade dos Espíritos encarnados na Terra; uns mais adiantados, propensos ao bem, à caridade e à fraternidade; outros, mais atrasados, propensos ao mal, ao orgulho e ao egoísmo, apegados aos bens terrenos, à matéria, a tudo o que é efêmero.
“Os que estão à beira do caminho, onde a palavra é semeada, são estes: quando ouvem, imediatamente vem Satanás e tira a palavra semeada neles” (Marcos 4:15).
A beira do caminho é o chão batido, duro, impenetrável, onde a semente não pode germinar. Representa aqueles que nem mesmo compreendem a palavra de Deus, pois não são capazes de receber a semente, uma vez que, caindo elas ali, vêm as aves e as comem. São as mentes áridas, endurecidas, que ainda não estão preparadas para as coisas espirituais.
Os pássaros, conforme sugeriu Jesus, representam a ação dos espíritos adversários do bem, que se comprazem em fazer desaparecer os seus bons ensinos das mentes fracas, que não absorveram a mensagem divina, pois, tendo estas ficado apenas na superfície de um solo impenetrável, são levadas embora e nenhum ato bom vem a ser produzido.
“O que é semeado sobre solo pedregoso são estes: quando ouvem a palavra, imediatamente a recebem com alegria, e não têm raiz em si mesmos, mas são transitórios; então, ocorrendo provação ou perseguição por causa da palavra, imediatamente se escandalizam” (Marcos 4: 16-17).
O solo pedregoso representa aqueles que já têm alguma condição espiritual de assimilar a palavra de Deus. No entanto, embora recebam a palavra com entusiasmo, sucumbem ante a primeira adversidade, desistindo de seus ideais espirituais por conta das dificuldades ou perseguições. Tal fato, na parábola, é representado pelo sol que, não tendo a semente gerado raízes, por não haver muita terra, queimou a planta que germinava.
“Os outros, semeados entre espinhos, são estes: são os que ouvem a palavra, e as ansiedades da era, o engano da riqueza, os desejos a respeito das demais coisas penetram, sufocam a palavra, e torna-se infrutífera” (Marcos 4: 18-19).
Os espinheiros simbolizam as seduções do mundo. Trata-se, pois, de um solo potencialmente fértil, mas que, em vez de germinar a palavra de Deus, dá lugar aos espinhos da matéria, que crescem e sufocam a sementeira espiritual. Tal é o caso daqueles cuja capacidade intelectual é desenvolvida e, portanto, haveria neles condições de conceber a palavra de Deus. No entanto, não conseguem colocá-la em prática, uma vez que seu lado moral é sufocado pelos interesses mundanos, já que, para estes, as sensualidades da matéria parecem mais interessantes do que os ensinamentos de ordem espiritual.
“Os que são semeados sobre a terra boa são aqueles que ouvem a palavra e a recebem, e frutificam, um trinta, um sessenta e um cem” (Marcos 4: 20).
Finalmente, a terra boa é o solo fértil, aquele em cuja superfície brotam as sementes que virão a produzir frutos mais tarde. Representa aqueles que se fazem receptivos às coisas espirituais, e que colocam em prática os ensinamentos de Jesus, cada um de acordo com o seu nível de adiantamento e dentro das suas possibilidades.
Alguns frutificarão trinta; outros, sessenta; outros, ainda, cem. Isso porque cada um tem em si a capacidade de assimilar a palavra de Deus em maior ou menor grau. Cabe a nós, portanto, nos questionarmos: que tipo de solo tenho sido? Quantos frutos tenho produzido? Que tipo de exemplos tenho semeado?
Sejamos, irmãos, como o solo fértil, fazendo-nos receptivos aos sublimes ensinamentos do mestre Jesus que, colocados em prática, inevitavelmente nos permitirão produzir os mais belos frutos. Desses frutos surgirão novas sementes, de maneira que, cada um de nós, aplicados no trabalho dessa seara, e guiados pelos ensinamentos do Cristo, teremos a oportunidade de contribuir, carregando, conosco, as sementes do Evangelho, as quais um dia hão de germinar em cada um dos corações daqueles que cultivarem a boa terra!
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O autor usou como referências bibliográficas: "Parábolas que Jesus Contou e Valem Para Sempre", de Therezinha de Oliveira e "Parábolas e Ensinos de Jesus", de Cairbar Schutel.
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