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Adoção: Um olhar Espírita


Janaína Magalhães


Sabemos, pelo que nos ensina a Doutrina Espírita, que nada é por acaso. Tudo tem uma razão de ser. Tanto as mães que hoje se esforçam por engravidar sem sucesso, quanto as crianças órfãs ou abandonadas que aparentemente nada fizeram por merecerem esse fim, trazem na bagagem espiritual a necessidade de passarem por essas provações. Não fosse assim, tomaríamos Deus por injusto.

 

Daí a importância do instituto da adoção e da abnegação e amor que levam esses pais a adotarem uma criança ou adolescente, passando por cima das questões puramente materiais dos laços consanguíneos.

 

Conforme consta em O Evangelho Segundo o Espiritismo, capítulo 14:

“Os laços do sangue não criam forçosamente os liames entre os Es­píritos. O corpo procede do corpo, mas o Espírito não procede do Espírito, porquanto o Espírito já existia antes da formação do corpo. Não é o pai quem cria o Espírito de seu filho; ele mais não faz do que lhe fornecer o in­vólucro corpóreo, cumprindo-lhe, no entanto, auxiliar o desenvolvimento intelectual e moral do filho, para fazê-lo progredir” (KARDEC, 2023, p. 182).

 

Ou seja, não é o sangue que cria os laços do Espírito. A afinidade espiritual existente entre os seres que se reúnem em uma mesma família ou a animosidade que de uma certa forma também reúne esses Espíritos para poderem expiar e quitar os débitos do passado é o que verdadeiramente faz a ligação entre esses Espíritos. Os laços de sangue são importantes no que tange às características e semelhanças físicas, mas no que se refere às qualidades morais, estas advêm do Espírito.

 

Sabemos que não existe planejamento reencarnatório para o mal e, por isso, o abandono de crianças por seus pais não encontra justificativa nos Códigos Divinos, devendo os responsáveis por tal ato serem chamados a se retratarem perante suas próprias consciências em chagas pela culpa e remorso devorador. Mas como não existe nada nos planos de Deus que não seja aproveitado e tenha fim útil, o Espírito devedor que precisa passar pelos processos de abandono encontra nos pais adotivos, que também necessitam da experiência do amor além das fronteiras do sangue, o aconchego e o amparo que tanto procuram.

 

Nessa união de almas, é imprescindível que predomine o amor e a honestidade para que a criança cresça sabendo que é filho do coração e que essa ligação é tão genuína quanto se tivesse sido proveniente dos laços de sangue. É importante que haja o diálogo desde cedo para que esta criança não venha a descobrir sua realidade por outras pessoas fora do círculo familiar e desenvolva a revolta ou o desequilíbrio no convívio com os pais.

 

“E se tens na Terra filhos por adoção, habitua-te a dialogar com eles, tão cedo quanto possível, para que se desenvolvam no plano físico sob o conhecimento da verdade. Auxilia-os a reconhecer, desde cedo, que são agora teus filhos do coração, buscando reajustamento afetivo no lar, a fim de que não sejam traumatizados na idade adulta por revelações à base de violência, em que frequentemente se lhes acordam no ser as labaredas da afeição possessiva de outras épocas, em forma de ciúme e revolta, inveja e desesperação.

Efetivamente, amas aos filhos adotivos com a mesma abnegação com que te empenhas a construir a felicidade dos rebentos do próprio sangue. Entretanto, não lhes ocultes a realidade da própria situação para que não te oponhas à Lei de Causa e Efeito que os trouxe de novo ao teu convívio, a fim de olvidarem os desequilíbrios passionais que lhes marcavam a conduta em outro tempo”. (XAVIER, 2010, P. 34-35)

 

Os Espíritos que chegam ao lar pelas vias da adoção estão passando por uma prova e em fase de “correção moral”, sendo assim necessário conhecerem desde cedo sua real condição para que a medida corretiva seja eficiente e atinja um bom resultado. Daí a importância de os pais adotivos serem claros e verdadeiros, explicando com amor sobre o processo adotivo, sem tentar camuflar ou esconder a realidade numa tentativa infrutífera de não causar sofrimento.

 

São muitos os dramas e muitas as tragédias ocasionadas pela imprudência dos pais que mentiram piedosamente aos filhos adotivos. Quando a verdade os surpreende, o choque emocional pode transtorná-los, fazendo-os perder a oportunidade de aprendizado que muitas vezes solicitaram com ardor na vida espiritual. Esta é uma razão nova que o Espiritismo apresenta aos pais adotivos, quase sempre apegados apenas às razões mundanas (XAVIER, 2010, P. 36).

 

Compreendendo desde a infância sua realidade de filho adotivo, esse Espírito encontra condições de se resignar diante da situação e “aproveita a lição de reajustamento afetivo”. Noutra ocasião, em nova oportunidade reencarnatória, virá como filho legítimo já com uma nova consciência da importância dos deveres da filiação.


A vida aplica sempre com precisão os seus meios corretivos, mas nós nem sempre a ajudamos, esquecidos de que os desígnios de Deus têm razões profundas que nos escapam à compreensão. Se Deus nos envia um filho por via indireta, devemos recebê-lo como veio e não como desejaríamos que viesse (XAVIER, 2010, P. 36-37).

 

Em mensagem do Espírito Amélia Rodrigues, retirado do livro “SOS Família”, podemos nos emocionar com o reconhecimento de um Espírito àquela que foi sua mãe adotiva enquanto encarnado, mensagem esta que transcrevemos abaixo:

 

Mãezinha querida:

Eu sei que você me recebeu com a alma em festa, vestida de sonhos e esperança.

Em momento algum, lhe passou pela mente que o fato de eu não lhe pertencer à carne pudesse alterar o nosso infinito amor.

Eu venho de regiões ignotas e dos tempos imemoriais do seu passado, no qual estabelecemos estes vínculos de afeto imorredouro...

Foi necessário que nós ambos nos precisássemos, na área da ternura, impedidos, porém, de nascer da carne um do outro, por motivos que nos escapam, a fim de que outra mulher me concebesse, entregando-me a você.

Ela não se deu conta, da grandeza da maternidade; não obstante, sou-lhe reconhecido, pois que sem a sua contribuição, eu não teria recebido esse carinho de mãe espiritual saudosa, nem fruiria de sua convivência luminosa, graças à qual eu me enterneço e sou feliz.

Filho adotivo!

Quantas vezes me golpearam com azedume, utilizando essas palavras!

O seu amor, todavia, demonstrou-me sempre que a maternidade do coração é muito mais vigorosa do que a do corpo.

Não há mães, que asfixiam os filhinhos quando estes nascem? E outras, não há, que sequer os deixam desenvolver-se no seu ventre, matando-os antes do parto?

No entanto, quem adota, o faz por amor e doa-se por abnegação.

De certo modo, somos todos filhos adotivos uns dos outros, pelo corpo ou sem ele, porquanto a única paternidade verdadeira é a que procede de Deus, o Genitor Divino que nos guiou para a glória eterna.

Mãezinha de adoção é alma que sustenta outra alma, vida completa que ampara outra vida em desenvolvimento.

Venho hoje, agradecer-lhe em meu nome e nos daqueles filhos adotivos que, ingratos e doentes, pois que também os há em quantidade, não souberam valorizar os lares que os receberam, nem os corações que se dilaceram na cruz espinhosa dos sofrimentos em favor da vida e da segurança deles.

Recordando-me da mãe de Jesus, que a todos nos adotou como filhos, em homenagem a Seu Filho, digo-lhe emocionada e feliz; Deus a abençoe, mamãe, hoje e sempre!

Amélia Rodrigues (Mensagem retirada do livro SOS Família – Psicografia de Divaldo Franco – 2002, p. 139-140).

 

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Referências:

 

FRANCO, Divaldo. SOS Família - Ditado pelo Espírito de Joanna de Ângelis e Diversos Espíritos.  Salvador: LEAL, 2002.

 

KARDEC, Allan O Evangelho Segundo o Espiritismo, tradução de Guillon Ribeiro. Campos dos Goytacazes/RJ: Editora Letra Espírita. 2023.

 

XAVIER, Francisco Cândido Xavier e Pires, J. Herculano – Astronautas do Além – Ditado por Espíritos Diversos – Edição GEEM – São Bernardo do Campo/SP – 2010.


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