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ANOMALIAS E DEFORMIDADES SOB A ÓTICA ESPÍRITA


Rafaela Paes

As realidades novas trazidas pela Espiritualidade em toda a Doutrina Espírita abrem um véu que torna capaz o entendimento de que a morte do corpo físico não é instrumento depurador. Com a desencarnação, finda-se a odisseia travada em uma nova existência, retornando a porção eterna de cada um, à Pátria Mãe.


Isso é explicado em O Livro dos Espírito, em nota de Kardec à questão 997:


“Não se deve esquecer que o Espírito, após a morte do corpo, não se transforma subitamente. Se sua vida foi condenável, é porque era imperfeito. Ora, a morte não o torna imediatamente perfeito. Ele pode persistir em seus erros, em suas falsas opiniões e preconceitos, até que seja esclarecido pelo estudo, pela reflexão e pelo sofrimento” (KARDEC, 2018, p. 320).


Com a devida vênia às religiões cristãs voltadas a perdões e penas eternas, as informações trazidas pelo Consolador Prometido nos mostram que a verdadeira misericórdia Divina está na lei de causa e efeito, onde tudo o que se causa deve ser exaltado ou cobrado nas exatas proporções dos atos de cada ser humano.


E como essa lei pode entrar em ação? Por meio do instrumento incrivelmente maravilhoso chamado reencarnação, conforme explica a questão 132 de O Livro dos Espíritos:


“Deus lhes impõe a encarnação com a finalidade de leva-los à perfeição: para uns, é uma expiação; para outros, uma missão. Para chegar a essa perfeição, eles devem sofrer todas as vicissitudes da existência corpórea: nisto consiste a expiação. A encarnação ainda tem outra finalidade, que é a de pôr o Espírito em condições de encarregar-se de sua parte na obra da Criação. É para realiza-la que ele toma, em cada mundo, um instrumento que esteja em harmonia com a matéria essencial desse mundo, para, a partir desse ponto de vista, executar as ordens de Deus; e dessa maneira, em sintonia com a obra geral, ele próprio progride” (KARDEC, 2018, p. 81).


Em cada mundo em que se habita, proporcionalmente igual à evolução espiritual que já se alcançou, recebe-se um instrumento mais ou menos material que permite viver as expiações e necessidades inerentes àquela encarnação. Sendo assim, o corpo que habitamos é exatamente o que precisávamos para depurar nossos atos e crescer espiritualmente.

Sendo assim, Léon Denis menciona, a respeito das deformidades e anomalias físicas que acometem algumas pessoas, que:


“Os atos violentos, a crueldade, o homicídio e o suicídio provocam um abalo prolongado no Espírito. Este choque repercute, no renascimento, no corpo material, com doenças, convulsões, deformidades ou mesmo a loucura, privando o Espírito da liberdade” (EDITORA EME, 2019, on-line).


Tem-se, então, a revelação de que há casos em que as deformidades e anomalias do corpo físico existem como consequência de atos impensados em encarnações pretéritas.


Se partir-se do pressuposto de que na atual encarnação, se é melhor do que já se foi em qualquer outra existência vivida, já que o Espírito não retroage em sua evolução, pode-se dizer que sim, todos já cometeram atos que atentaram às Leis Divinas de forma violenta, e isso, para o Espírito imortal, é um choque, pois, trata-se de uma grave violação à vida, ocasionando deformidades físicas, dentre outras enfermidades.


Suely C. Schubert apud CEFAK (201?, on-line) ensina que “é muito comum encontramos casos de caráter misto onde se conjugam obsessão e males físicos. O Espírito enfermo, endividado, plasma no seu envoltório perispirítico os desvios, as deformidades de que é portador. Consequentemente, renascerá em corpo físico que por sua vez refletirá as desarmonias preexistentes no Espírito”.


Portanto, corroborando a assertiva de Léon Denis, os males sentidos e causados são transferidos sim ao perispírito e, numa próxima vida material, estes irão repercutir no corpo físico onde habitará o Espírito.


Isso decorre da consciência de arrependimento que o Espírito adquire no mundo Espiritual, ao perceber os erros cometidos. Sim, tais erros são reconhecidos, conforme aduz O Livro dos Espíritos, em sua questão 994:


“994. O homem perverso que não reconheceu seus erros durante a vida sempre os reconhece após a morte? Sim, sempre os reconhece, e então sofre mais, pois ressente-se de todo o mal que praticou ou de que foi a causa voluntária. No entanto, o arrependimento nem sempre é imediato. Há Espíritos que se obstinam num mau caminho apesar dos sofrimentos por que passam. Porém, cedo ou tarde, reconhecerão haver tomado o caminho errado e o arrependimento virá. É para esclarecê-los que os bons Espíritos trabalham, que também vós podeis trabalhar” (KARDEC, 2018, p. 319).


Na Codificação básica de Allan Kardec, analogamente, encontra-se trecho em O Céu e o Inferno, que aduz a respeito dos chamados idiotas e cretinos (o que são doenças devidamente catalogadas). Lá, percebe-se que o corpo físico debilitado é uma verdadeira prisão para o Espírito, que assim, pode vir a depurar-se:


“Os cretinos são seres punidos sobre a Terra pelo mau uso que fizeram de poderosas faculdades; sua alma está aprisionada num corpo, cujos órgãos impossibilitados não podem exprimir os seus pensamentos; esse mutismo, moral e físico, é uma das mais cruéis punições terrestres; frequentemente, ela é escolhida pelos Espíritos arrependidos que querem resgatar as suas faltas. Essa prova não é estéril, porque o Espírito não fica estacionário na sua prisão de carne; seus olhos embrutecidos veem, esse cérebro deprimido concebe, mas nada se pode traduzir, nem pela palavra nem pelo olhar e, salvo o movimento, estão moralmente no estado dos letárgicos e catalépticos, que veem e ouvem o que se passa ao seu redor sem poder exprimi-lo [...]” (KARDEC, 2008, p. 266-267).


Claro, há diversos graus e tipos de anomalias e enfermidades, trazendo-se aqui um panorama mais geral a respeito do tema. Por isso, importante deixar claro que em tudo o que toca a Lei Divina, será exatamente proporcional ao ato cometido, ou seja, a cada um é dado segundo as obras, por isso, as diferentes nuances que se encontram a respeito do assunto aqui tratado.


São caminhos difíceis e sofridos, mas necessários. O objetivo de cada Espírito encarnado é evoluir, e isso inclui resignar-se às demandas físicas que devam se fazer presentes para que as trilhas sigam em conformidade com o que se espera. Um corpo físico portador de enfermidades, deformidades e anomalias, é sim uma prisão para o Espírito, que sabe da liberdade que possui e se encontra enclausurado numa massa de carne grosseira que a ele não atende os anseios imediatos.


Mas, a longo prazo, uma existência e sofrimentos leva a grandes conquistas. O Espírito não encontrará na Terra a felicidade completa e suprema que anseia, haja vista que a vida é uma prova ou uma expiação para a imensa maioria dos seus habitantes, que raramente aqui retornar a título de missão. Entretanto, “depende dele amenizar seus males e ser tão feliz quanto possível na Terra” (KARDEC, 2018, p. 296).


Não há penas eternas, não há mal que perdure para sempre e, para finalizar a reflexão, Santo Agostinho, em resposta à questão 1009 de O Livro dos Espíritos, no diz:


“Dizeis que antes de mais nada, Ele é justo, e que o homem não compreende Sua justiça. Mas a justiça não exclui a bondade, e Ele não seria bom se condenasse a maior parte de Suas criaturas a penas horríveis e perpétuas. Poderia exigir de Deus filhos a justiça, se não lhes tivesse dado os meios de compreendê-la? Alas, não é a sublimação da justiça, aliada à bondade, fazer com que a duração das penas dependa dos esforços que o culpado faz para melhorar? Nisto consiste a verdade deste preceito: ‘A cada um segundo suas obras’(KARDEC, 2018, p. 323).



REFERÊNCIAS

CEFAK. O que é obsessão. Disponível em: http://palestrasdiversas.com.br/Temas%20Diversos/O-Que-e-a-Obsessao.pdf. Acesso em: 21 de abril de 2020.

EDITORA EME. O que os Espíritos disseram a Léon Denis a respeito do perispírito? Disponível em: https://editoraeme.com.br/blog/leon-denis/. Acesso em: 21 de abril de 2020.

KARDEC, Allan. O Céu e o Inferno, tradução de Salvador Gentile, revisão de Elias Barbosa. Araras, SP. IDE, 51ª edição, 2008.

_________. O Livro dos Espíritos, Tradução de Matheus Rodrigues de Camargo – 23ª reimp. nov. 2018, Capivari/SP: Editora EME.


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