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O Suicídio



"A melhor forma de amenizarmos a nossa dor é amenizando a dor do outro. Só nos sentimos solitários quando não somos solidários." Pedro era um jovem de 17 anos, de classe média alta, e desfrutava a vida de forma invejável comparado a outros jovens de sua faixa etária. Tinha carro de luxo, estudava no melhor colégio da cidade e morava em uma residência confortável. Aparentemente era feliz.

Tinha uma namorada, garota linda e de boa família, pela qual se apaixonara. Já estava próximo de completar 2 anos de namoro quando ela comunicou que não pretendia mais continuar, pois estava se sentindo atraída por outro rapaz.

Esta inesperada e indesejável situação foi para ele um choque de profundas consequências. Depois de alguns meses de tristeza e lágrimas, começou a alimentar a ideia de suicídio. Já não suportava, dizia ele, viver sem ter ao seu lado a pessoa que mais amava.

Ele tinha um amigo chamado Carlos, um espírita dedicado no trabalho de assistência numa colônia de hansenianos. Este, ao saber do seu sofrimento, procurou-o e falou a respeito da imortalidade da alma e do sofrimento do suicida no plano espiritual, mas não obteve êxito no esforço de dissuadir o amigo da ideia infeliz.

Em silêncio, Carlos pediu inspiração ao plano espiritual para solucionar tão grave problema. Após alguns segundos falou: _ Eu realizo um trabalho de visita aos irmãos que sofrem do mal de Hansen - a lepra, como era conhecido no passado. Hoje é dia de visita, e eu gostaria que você fosse comigo. Seria uma boa oportunidade para conhecer pessoas que apesar das limitações externam muito otimismo e simpatia.

Respondeu-lhe Pedro: _ Na verdade, algumas vezes até pensei em realizar esse tipo de trabalho, mas, atraído por outros interesses nunca consegui. Aceito o convite!

Na hora marcada, dirigiram-se à colônia. A primeira visita foi feita a Tenório, homem relativamente jovem, que mesmo com limitações impostas pela doença (estava cego e os membros inferiores não lhe permitiam a locomoção) era portador de uma fé incomum.

Calos iniciou o diálogo: _ Tenório meu irmão, como está? _ Bem, graças a Deus, e vocês? _ Bem! Tenório este é Pedro, um amigo que veio realizar um desejo antigo de fazer visitas a hospitais. _ Seja bem vindo, meu filho. A visita que vocês nos fazem tem um valor imenso para nossas almas massacradas pelas provações da vida, porém, jamais pela revolta.

Quando aqui cheguei tinha quase a sua idade. No princípio, era um revoltado, não aceitava as duas grandes perdas: a saúde e a liberdade. Foi através das visitas, principalmente dos espíritas que me falavam da misericórdia Divina e de que ninguém sofre por acaso, da reencarnação e da lei de causa e efeito, que comecei a eliminar a minha revolta, desenvolvendo a aceitação. Mas foi principalmente quando perdi a visão que mais aprendi a respeito da minha situação.

Hoje, compreendo que a misericórdia de Deus não nos oferece perdas, apenas ganhos. Quando perdi a visão exterior, conquistei a visão interior. Aprendi a entender a vida e o valor que ela tem em qualquer circunstância. Quantas vezes, quase dominava-me a ideia do suicídio! Agora domina-me a vontade de viver! E viver para amar.

Se eu recebesse de volta a minha saúde, meus olhos veriam mais as necessidades do próximo do que seus defeitos, e minhas mãos seriam mais ágeis no trabalho útil para mim e para o próximo. Teria mais compaixão com a dor alheia do que com a minha. Só hoje reconheço que fui egoísta e o quanto o egoísmo anestesia nossos sentimentos em relação ao próximo.

Tão grande era o meu egoísmo que pensei em desertar da vida pela ilusória porta do suicídio. Todo aquele que alimenta tal ideia só pensa na sua dor, sem levar em conta a dor que causa com esse tipo de covardia àqueles que ficam.

Espero que o mundo um dia acorde para essa realidade: a melhor forma de amenizarmos a nossa dor é amenizar a dor do próximo. Só nos sentimos solitários quando não somos solidários.

Ao término de suas inspiradas reflexões, Tenório tinha o rosto banhado por lágrimas e Pedro - o candidato ao suicídio - chorava convulsivamente. Num impulso, abraçou aquele homem, exemplo de dignidade e fé, e expressou sua comovida gratidão.

Deus te abençoe! Você salvou minha vida. Somente hoje aprendi que o meu sofrimento é muito pequeno para ser transformado em tragédia. Ele é fruto do meu egoísmo: querer apenas ser amado, enquanto existem tantos aos quais eu poderia amar. Agora compreendo a lição de Francisco de Assis: "É dando que se recebe".

O tempo passou sob o clima de profundas emoções. Os jovens despediram- se de Tenório com promessa de breve retorno.

Ainda na colônia, envolvidos pelo sentimento de paz, Carlos abriu ao acaso O Evangelho Segundo o Espiritismo, deparando emocionado, com a mensagem eterna do Cristo: " VINDE A MIM TODOS VÓS QUE ESTAIS AFLITOS E SOBRECARREGADOS E EU VOS ALIVIAREI "(Mateus, XI: 28). Meus amigos, que bela lição!

Nesse texto vemos claramente o poder do exemplo, da ajuda e do amor ao próximo. O suicídio vem crescendo de forma assustadora e na maioria dos casos poderia ser evitado se alguém oferecesse ajuda. Se estivermos atentos ao próximo como Jesus nos pediu, amando-os podemos sim evitar uma tragédia. É comprovado que aqueles que trabalham pelo bem dos mais necessitados enfrentam suas dores com resignação.

Não sejamos egoístas julgando nossa dor sempre maior que tudo, porque se olharmos para o lado, vamos encontrar irmãos muito mais necessitados. Quem comete o suicídio na tentativa de extinguir sua dor não pensa na dor daqueles que ficam. O egoísmo nos leva pela mão ao caminho do erro e só o amor será capaz de nos curar desse mal e nos fazer enxergar a bênção que é poder viver para aprender, reparar nossos erros e evoluir. Se problemas nos fazem fraquejar peçamos forças ÀQuele que nunca nos desampara.

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